domingo, 27 de maio de 2012

Caça ao Tesouro Ecológico

JOGO CAÇA AO TESOURO ECOLÓGICO
Uma reflexão crítica e lúdica sobre os recursos hídricos*




CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO

     Pensar no recurso hídrico nos remete a uma gama de abordagens e para o desenvolvimento deste material nos limitamos em três diferentes usos: o doméstico, a produção de materiais e de alimentos, e sobrevivência. Esses três usos foram esquematizados no jogo “Caça ao Tesouro Ecológico” de maneira a propiciar um entendimento das relações sociedade-natureza, ou seja, as diferentes formas com as quais os homens se apropriam dos recursos. A contextualização histórica atual evidencia a situação alarmante do meio ambiente no sentido do uso desequilibrado deste recurso, concretizados em ações como o desperdício e o consumismo. Assim, apoiados na corrente da Educação Ambiental Crítica, o jogo pretende formar indivíduos que problematizem e ajam conscientemente nas questões sócioambientais. 
     Para tanto, o uso doméstico, definido pela SEMA, 
É o uso mais nobre da água, essencial para a manutenção da vida humana, ela é usada para suprir o corpo humano e também necessidades como limpeza de utensílios e habitações, higiene pessoal, cozimento de alimentos, irrigação de jardins, combate a incêndios, limpeza de ruas (BRASIL, 2001, p. 26).
     A partir desta definição foi possível dimensioná-la no material didático levando os alunos a buscar objetos como a torneira e o vaso. Nas pistas que levam a esses objetos esses puderam refletir acerca da quantidade de recurso utilizada e que trás uma necessidade de atitude consciente da utilização do recurso finito, a água. 
     Pensar o uso da água na produção de materiais levou-os a procurar o computador, o metal e o livro. Neste momento a intenção é mostrar aos alunos os impactos da tecnologia de produção no recurso. No processo de produção industrial e agrícola é refletida a utilização de uma grande porção de água e contribui para o entendimento do meio ambiente quando mostra que o recurso hídrico está aplicado não apenas em sua forma bruta, evidenciando ainda mais sua fundamental importância. 
     Por último, o uso da água para a sobrevivência enfoca a condição básica de vida dos seres vivos, a alimentação. Assim, esta se configura como essencial à manutenção da vida e sua produção, na agricultura, utiliza relevante quantidade de água. 
     Em relação ao “tesouro” no final das pistas, as mudas de árvores foram escolhidas devido aos múltiplos papéis que a vegetação exerce na configuração de um ambiente agradável e estável, por exemplo, proteção do solo, regulação térmica e importância no ciclo hidrológico. Vale ressaltar que é no tesouro que o aluno é levado a uma atitude consciente no momento que escolhe “plantar” a muda.
     Nesta perspectiva, a aplicação do material didático, o jogo “Caça ao tesouro ecológico”, na 6ª série, teve como objetivo principal promover a consciência ambiental e a mudança de valores nos alunos de modo que sua atitude possa refletir num meio ambiente equilibrado. 
     Para tanto, foi necessário uma aula introdutória para a construção dos conceitos de Meio Ambiente e Degradação Ambiental. Neste momento, ressalta-se a participação ativa do professor como um mediador no processo de ensino-aprendizagem e o material didático, o jogo, como um instrumento de trabalho. Trata-se de uma relação intrínseca entre estes agentes, de maneira que a falta de um deles pode vir a comprometer o processo.
O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensoriomotor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso os métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil (PIAGET, 1964).

     Diante disso, o jogo se torna mais uma alternativa, pois permite ao aluno construir conhecimento além de dinamizar a aula. Especificamente o “Caça ao tesouro ecológico” é um material que contribui para o processo de educação ambiental.

AULA INTRODUTÓRIA        

     Antes da aplicação do “Caça ao Tesouro Ecológico” se fez necessário uma aula introdutória do meio ambiente com enfoque nos recursos hídricos. A estratégia didática valorizou o lugar, uma vez que a educação ambiental prima pela construção de valores e um repensar nas atitudes que são primeiramente materializadas no lugar. 
     O estudo do lugar deve possibilitar a direta relação com a totalidade já que é possível identificar dinâmicas globais nesta categoria geográfica. O ponto de partida deve ser a inter-relação entre o lugar e o todo, pois, devido o fenômeno da “globalização” não existe lugar estanque, o mundo é uma “sociedade em rede”, globalmente interligado, mas, que contempla peculiaridades.

Cada lugar é, a sua maneira o mundo. Ou como afirma M. A. Souza (1995 p. 65) “ todos os lugares são virtualmente mundiais”. Mas, também, cada lugar, irrecusavelmente imersos numa comunhão com o mundo, torna-se exponencialmente diferente dos demais. A uma globalidade corresponde uma maior individualidade (SANTOS, 2006, p. 213).
     Os Parâmetros Curriculares trazem a preocupação em superar a prática dos círculos concêntricos que preconizam o ensino de Geografia de maneira estanque, uma vez que não inter-relacionam as diferentes escalas. De acordo com os PCNs não se deve trabalhar mais do nível local para o global hierarquicamente e a compreensão da realidade local relacionado no contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante toda a escolaridade de maneira mais abrangente, desde os ciclos iniciais (PCN’S, 1997). 
     O ensino de Geografia e a construção de valores que contemplem o viés da educação ambiental são mais significativos quando os alunos estudam os espaços próximos de suas vivências, pois, os conceitos se tornam mais concretos e culminam em maior interesse. 
     Desta maneira, a primeira atividade, a dinâmica “Teia da Vida”, consistiu em construir com o aluno o conceito de meio ambiente afim de que eles compreendessem as inter-relações existentes e que não há hierarquia entre os seres vivos, cada um apresenta sua função indispensável. 
     Ao término da atividade os alunos notaram a teia de barbante que foi formada, então um aluno, representando a árvore, simulou o corte e todos os outros alunos sentiram a reação. A dinâmica serviu para fazer uma analogia dos impactos no meio ambiente caso haja degradação de algum elemento. Com um enfoque sistêmico, esta atividade foi de fundamental importância para o estabelecimento de relações causais entre os elementos e acontecimentos que possibilitaram um entendimento do meio ambiente.
     O papel do educador, segundo Freire (1974), é construir junto com o aluno a problematização a fim de gerar um diálogo entre educador e educando. Assim, a tarefa do educador, 
 [..] não é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como paciente de seu pensar, a inteligibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de interagir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico. (FREIRE, 1974, p. 41).

     Durante o debate sobre a dinâmica, a questão do desperdício e da poluição dos recursos hídricos foi relevante para elucidar a situação do córrego, visto no trabalho de campo no córrego Águas do Jacu, principalmente para aguçar as discussões e a percepção ambiental dos alunos. Vale ressaltar, que passado algum tempo próximos ao córrego, os alunos ficaram incomodados com o mau cheiro e os mosquitos oriundos da sujeira.
     Os alunos se impressionaram com a degradação apesar do prévio conhecimento do córrego. Com a mediação foram instigados a uma reflexão crítica a respeito da situação dos recursos hídricos. Assim, o trabalho de campo se configurou como um importante instrumento para a construção do conceito de degradação ambiental em conjunto com a mata ciliar, a erosão e o assoreamento, relevantes para a compreensão da problemática e viabilidade da EA, assim, para fundamentar o jogo.
           

APLICAÇÃO DO JOGO “CAÇA AO TESOURO ECOLÓGICO”

     O jogo “Caça ao Tesouro Ecológico”, dividido nas suas três dimensões de uso da água, permite oferecer aos alunos o conhecimento e a compreensão deste recurso natural para que adquiram valores e atitudes a fim de evitar o desperdício. 
     O jogo teve início com a instrução das regras passadas pelo instrutor aos alunos participantes. 




     Logo em seguida, dividiu-se a sala em dois grupos de acordo com o número de participantes e foi escolhido um representante para cada grupo. A primeira pista que dá início ao jogo foi entregue ao representante de cada grupo, para que este repassasse para os demais. Após sua leitura começou a busca. Ao final das seis pistas os alunos receberam o “tesouro”, uma muda de árvore, plantada por eles no final da atividade.


Link para download das pistas e regra: Caça ao tesouro ecológico

     O material didático construído viabilizou os objetivos traçados no projeto de educação ambiental, com uma maior aproximação da relação sociedade-natureza explorando o meio ambiente da escola e a abordagem problemática das condições do córrego próximo a este espaço.


AVALIAÇÃO

     Após o jogo, foi incitada uma discussão, contida nas regras, a fim de que os alunos relacionassem as pistas com a realidade em que se inserem fazendo um paralelo com a dinâmica global vigente. Esta discussão tem condições de propiciar uma reflexão por meio do seu entendimento enquanto agente integrante e responsável no meio ambiente, assim, da importância da conscientização ambiental. Neste momento a contribuição dos alunos foi salutar, estes se demonstraram receptivos acerca da atividade proposta a partir de suas mais diferentes abordagens.
     A discussão teve caráter avaliativo na aplicação do jogo, pois os apontamentos dos alunos permitiram verificar que a reflexão dos mesmos veio ao encontro dos objetivos propostos, demonstrando a relevância de um comportamento consciente na relação custo da natureza e necessidade do homem, quando mencionaram de forma espantosa os dados quantitativos na produção dos materiais. 
     Para concluir a discussão destacou-se a necessidade de uma mudança de atitude conjunta à conscientização, assim, teriam condições de disseminar a produção de um meio ambiente equilibrado no uso do recurso hídrico.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

     A prática da Educação Ambiental realizada nesta disciplina contribuiu com o processo de promoção de uma consciência ambiental nos alunos e para a transformação de seus comportamentos. Em conseqüência disso, espera-se um uso equilibrado do recurso hídrico. 
     A construção do entendimento do aluno como sendo este um agente integrante e responsável no meio ambiente iniciou-se na aula introdutória para se concretizar no jogo. Esta construção se deu com a problemática dos recursos hídricos no meio ambiente nas escalas do lugar e do global. Nesta perspectiva, desenvolveu-se e aplicou-se um material didático, o jogo “Caça ao Tesouro Ecológico” que contemplasse os objetivos da Educação Ambiental com enfoque nas três dimensões do uso da água, ou seja, nas diferentes funções as quais é necessária. 
     A aplicação do jogo contextualizado com a realidade atual oportunizou uma reflexão, no entanto, atividades como esta ainda tem um longo caminho a ser percorrido, visto que os professores encontram dificuldades em trabalhar a EA na sala de aula. Com a intenção de contribuir com os materiais didáticos do Centro de Pesquisa de Educação Ambiental coordenado pela Profª Dra. Luciene Cristina Risso, o jogo “Caça ao Tesouro ao Ecológico” estará disponível para que seja utilizado na prática da EA, assim, visa estimular e atenuar essas dificuldades. 
     Almeja-se assim ter colaborado com o processo de formação de agentes críticos, capazes de reconhecerem a realidade do meio ambiente em que se inserem, bem como a realidade na qual as questões ambientais como um todo estão inseridas, visto os interesses políticos e econômicos como os do agronegócio, da canalização, da negligência frente a degradação dos cursos hídricos e entre outros.

 
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília, 1998.
______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos. Apresentação dos temas transversais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998.
______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos. GEOGRAFIA. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998.
______. Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola: guia do formador. Brasília: MEC/SEF, 2001.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática docente. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios práticas. São Paulo: Gaia, 2004.
ALVES, Lucimar e Sá. A Educação Ambiental e a pós-graduação: um olhar sobre a produção discente. Dissertação. Rio Claro, 2006.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Neuchâteo, Suíça: Editions de Lachaux et Niestlé, 1964.
TOMAZELLO, M. G. C.; FERREIRA, T. R. C.. Educação Ambiental: que critérios adotar aara avaliar a adequação pedagógica de seus projetos? In: Revista Ciência e Educação, v.7., 2001.
 RAMOS, P. Educação ambiental como Política pública: Avaliação dos Parâmetros em Ação - Meio Ambiente na Escola. Dissertação de mestrado. Centro de Desenvolvimento Sustentável. Universidade de Brasília, 2004. 




*Projeto desenvolvido por Angélica de Jesus Batista, Luzia de Jesus Matos, Raquel Camalionte Castilho, Silvia Aparecida Fiori Mano e Thiara Vichiato Breda na disciplina de Educação Ambiental ministrada pela Profª Dra. Luciene Cristina Risso no curso de Geografia da UNESP/ Ourinhos.

11 comentários: