“a criança faz bem aquilo que faz com prazer”
CHATEAU
A importância de jogos na sala de aula se justifica pela necessidade de materiais atrativos, instigantes que despertem a curiosidade e a vontade de aprender de forma prazerosa. Dessa forma, o jogo tem sua parcela de contribuição no ensino, que como afirma Silva (2006):
[...]o jogo confere ao aluno um papel ativo na construção dos novos conhecimentos, pois permite a interação com o objeto a ser conhecido incentivando a troca de coordenação de idéias e hipóteses diferentes, além de propiciar conflitos, desequilíbrios e a construção de novos conhecimentos fazendo com que o aluno aprenda o fazer, o relacionar, o constatar, o comparar, o construir e o questionar (SILVA, 2006, p. 143).
Piaget (1964), também discute a questão do jogo, entretanto, com uma abordagem diferente. Enquanto Silva (2006) aborda sobre o jogo no ensino, Piaget (1964) trabalha com o jogo na formação da inteligência e, para o pesquisador, o uso do material permite o processo de assimilação; este equilíbrio entre assimilação e acomodação permite a construção da inteligência.
Desde modo, conforme discorre (PIAGET, 1964, p. 19), almeja-se que o jogo se torne mais uma alternativa de material (elemento gerador) heurístico para o professor, pois permite ao aluno por meio de regras e métodos construir por si mesmo a descoberta, o conhecimento e dinamizar a aula, já que o jogo é uma atividade "pelo prazer", ao passo que a atividade séria tende a um resultado útil e independe de seu caráter agradável.Buscando atingir esses objetivos, desenvolvi 5 jogos: os quatro primeiros utilizaram o sensoriamento remoto para a confecção de suas cartas, já o último utilizou o mapa do parque como tabuleiro:
As imagens de satélite, bem como as fotografias aéreas, além de serem formas pela representação do espaço geográfico, permitem o registro de elementos que compõem a superfície terrestre. Nesse panorama, o professor deve ter clareza que o seu desafio para a leitura da paisagem consiste em “[...] fornecer ao aluno um recurso que possibilita identificar diferentes usos do território [...]”. (ALMEIDA, 2003, p. 160).Tais recursos não se fazem presentes na prática educativa, o que contraria a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que aponta a necessidade do uso de novas tecnologias. Com o intuito de inserir essas novas tecnologias no ambiente escolar, conforme já ressaltado nos PCN’s, essa etapa foi destinada a atividades que possibilitem ao aluno uma aproximação mais contextualizada da leitura espacial e geográfica dos elementos da paisagem, por meio dos produtos de sensoriamento remoto, com a confecção dos jogos cartográficos:
a) Dominós
O jogo dominó, além de fotografias utilizadas, também foi construído por imagens captadas pelo satélite do Google Earth. No entanto, foram criados dois jogos de dominó, em que no primeiro, a sua dinâmica se realiza pelo encaixe entre uma pergunta e sua respectiva representação (imagem), buscando despertar no aluno a interpretação de paisagens e relacioná-las a um contexto.
Link para download do jogo: Jogo de Dominó: Andando por Ourinhos
O segundo jogo, se dá com o encaixe entre uma imagem de satélite (visão vertical) e uma fotografia (visão obliqua).Devido ao fato de trabalhar com imagens nas posições vertical e oblíqua, espera-se que o aluno observe imagens por diversos ângulos, porém perceba que se referem aos mesmos objetos, assim permitir a compreensão de mapas que são construídos considerando a visão vertical do real e que, muitas vezes, os alunos sentem dificuldade de interpretar, por não estarem acostumados com a visão vertical; o jogo estimula essa relação.
b) Jogo da memória
As peças construídas neste jogo tiveram suas imagens captadas por satélite, disponibilizadas no Google Earth, de pontos do Município de Ourinhos. Assim, o aluno dever encontrar os pares iguais nas cartas identificando-as e, em seguida, encontrar tais pontos no mosaico de fotografias a fim de despertar a sua localização e finalizar com uma discussão a respeito de cada ponto, destacando sua importância e peculiaridades.O objetivo dessa atividade é levar o aluno a identificar e localizar objetos conhecidos a partir do reconhecimento dos elementos representados, partindo da visão vertical, buscando desenvolver a localização, a lateralidade (ao lado, atrás, em frente). Este jogo permite também trabalhar a noção da proporção e conseqüentemente de escala pois estimula as relações topológicas elementares como: separação, ordem sucessão, proximidade e continuidade das linhas, pontos e áreas da fotografia aérea. Assim como nos dominós e no quebra cabeça (descritos a seguir), no jogo da memória, o aluno, ao remeter a sua memória de objetos ou áreas representadas nas peças, consegue fazer uma comparação e assim entender a noção de proporcionalidade, bem como a noção de continuidade de área (Castellar 2011).
Link para download do jogo: Jogo da Memória: Explorando Ourinhos
Depois de localizadas as peças no mosaico de fotografia,
perguntas orais que estimulavam as relações topológicas (vizinhança, ordem) e projetivas
(esquerda/direita, frente/trás) foram realizadas.
Fonte, Breda, 2010, p. 63
Darei aqui alguns exemplos:
Questão 1 - “A UNESP
se encontra em que posição (direita/esquerda, frente/trás) em relação a Estácio
de Sá? E em relação ao Rio Pardo e Rio turvo? Aluno A, você concorda com seu
colega a sua frente (aluno D)? e com os seus colegas do lado (B e C)? Por quê?
Questão 2 - “Se você
estivesse na central de manobras, onde estaria a Catedral? Qual seria a direção (a partir dos pontos
cardeais) que você iria tomar para ir até lá?”
Questão 3 - “Considerando
que o Norte do nosso mosaico está apontado para a lousa, a catedral está à
direita, à esquerda, na frente ou atrás em relação: à Estácio de Sá? Ao
Clube? Ao pátio de manobra? Se ficássemos
na mesma posição e girássemos o mosaico, com o norte apontando para a porta, o que
mudaria?”
Os alunos por se distribuírem ao redor da mesa durante a
partida, conforme se observa na figura esquemática "A", encontravam-se cada um em uma posição,
portanto tinham a sua direita e esquerda diferente dos demais colegas na
partida. Para o aluno D, a direção a ser tomada para ir da central de manobra
(Ponto F) até a catedral (ponto G) seria seguir para o Sul, assim
como para o aluno A, B e C. Entretanto para o aluno D, a Catedral estaria na
frente da central de manobra. Já para o aluno A, a catedral estaria atrás. Para
o aluno C ela estaria à esquerda da central. E para o aluno B, estaria à
direita da central de manobra.
Fonte, Breda, 2010, p. 62
Essa questão permite deixar claro para o aluno, que independente da sua posição, a Catedral encontra-se ao Sul da central de manobra. Mas o mesmo não aconteceu com a esquerda/direita, frente e trás, que depende do ponto de referência e de onde o aluno está em relação a esse ponto. O que influi aqui é qual a projeção que o aluno faz, em referência aos pontos:
Este jogo é o mais simples de todos e depende totalmente da participação do professor para dar continuidade ao processo de ensino aprendizagem. Sua dinâmica se processa com a montagem de duas fotografias aéreas, de uma mesma área, do município de Ourinhos. Uma correspondente ao ano de 1974 e a outra de 2004. Após os alunos montarem as fotos, eles deverão analisar as transformações naquele espaço, como desmatamento da vegetação e o crescimento da cidade. Com isto, pode-se relacionar qual foi a causa do desmatamento da mata atlântica e que desde a década de 1974, essa vegetação já se encontrava devastada pelo homem. Outra análise a ser realizada, é sobre o desenvolvimento das redes de transporte aéreo (construção do aeroporto) e rodoviário (construção de rodovias).No momento em que os discentes procuram as peças para o encaixe do quebra-cabeça, mesmo que por “diversão”, eles estarão fazendo uma análise visual minuciosa da peça, que talvez apenas olhando a fotografia aérea eles não fizessem. De todo modo, o jogo permitirá ao aluno uma identificação e posteriormente uma interpretação dos elementos da fotografia, que contribuirá para a inserção de novos conteúdos e uma percepção mais apurada de sua cidade.
Com esse jogo, pode-se trabalhar cálculos de escala e transformações de unidades, como também a confecção de mapas a partir do sensoriamento remoto, e os atributos do mapa, conteúdo do sexo ano.
Com esse jogo, pode-se trabalhar cálculos de escala e transformações de unidades, como também a confecção de mapas a partir do sensoriamento remoto, e os atributos do mapa, conteúdo do sexo ano.
Jogo de tabuleiro Conhecendo o Parque Ecológico
Durante o percurso, os jogadores poderão parar em casas com pontos de interrogação. Quando isso ocorrer, o jogador anterior deverá ler a carta que contém 4 (quatro) respostas, sendo apenas 1 (uma) correta. Essas cartas abrangem temas contidos no parque (fauna e flora), bem como conceitos e noções de cartografia. Essas cartas são separadas por cores e divididas em níveis de dificuldade: fácil (verde), intermediário (amarelo) e difícil (vermelha), assim, dependendo da faixa etária é possível selecionar a dificuldade do jogo. Além de acertar as perguntas, o jogador precisará de sorte para ganhar, pois durante o caminho, caso esse inflija alguma regra do parque, será punido retrocedendo algumas casas, voltando ao inicio ou perdendo a vez.
Esta atividade permite trabalhar conceitos cartográficos relacionados aos recursos hídricos e conservação ambiental, história do Parque Ecológico e o desenvolvimento do município, conteúdos de ciências (fauna e flora). Já com o tabuleiro, pode-se desenvolver atividades de cálculos de escala e de transformação de unidades, como também noções de localização, orientação, pontos de referencia e distância utilizando a rosa dos ventos. Este também contribui para a interpretação de informações e a construção da noção de legenda.
Registro do Jogo: Desenho Industrial n.DI7102128-0, Padrão ornamental aplicado em tabuleiro. 03 de Junho de 2011 (Depósito); 27 de Setembro de 2011 (Concessão).
Link para download do jogo: Conhecendo o Parque Ecológico
Link para download do jogo: Conhecendo o Parque Ecológico
Apostila: O uso de jogos Geográficos: Passo a Passo
Link para download: Apostila
Confira o roteiro para planejar jogos [aqui]
Principais referências Bibliográficas
AGUIAR, L.M.B. O lugar e o mapa. Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 60, p. 139-148, agosto 2003 139. Disponível em<http://www.cedes.unicamp.br
Almeida, R. D. de. Atlas municipais elaborados por professores: a experiência conjunta de Limeira, Rio Claro e Ipeúna. Cad. Cedes, Campinas, v23, n. 60, p. 149-168, agosto 2003.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais : geografia /Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília : MEC/SEF, 156 , 1998(a).
CAZETTA,C. As fotografias aéreas verticais como uma possibilidade na construção de conceitos no ensino de geografia. Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 60, p. 210-217, agosto 2003(b). Disponível emhttp://www.cedes.unicamp.br
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Neuchâteo, Suíça: Editions de Lachaux et Niestlé, 1964.
SILVA, L. G. Jogos e situações-problema na construção das noções de lateralidade, referências e localização espacial. In: CASTELLAR, S. Educação geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
*Este texto faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso “O OLHAR ESPACIAL E GEOGRÁFICO NA LEITURA E PERCEPÇÃO DA PAISAGEM MUNICIPAL: CONTRIBUIÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS E DO TRABALHO DE CAMPO NO ESTUDO DO LUGAR” (Vol.I Download, Vol.II Download), da Dissertação de mestrado " O USO DE JOGOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NA GEOGRAFIA ESCOLAR" Download, e da Tese de doutorado “POR QUE EU TENHO QUE TRABALHAR LATERALIDADE?”: EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS COM PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS Download
Agradecimento: EMEF Jandira Lacerda Zanoni pela confiança e espaço para aplicação dos materiais
Querida Thiara, que trabalho maravilhoso! Parabéns mesmo!
ResponderExcluirExistem elementos de cartografia, geotecnologias, fotointerpretação. Todos explorados de forma lúdica!
Confesso que fiquei com muita vontade de jogar os jogos, quem sabe vou fazer algum deles aqui com meus alunos!!!
Vamos manter contato!!! Sinta-se convidada para participar da "Rede Geocaçadores do Conhecimento" que reúne projetos de Ensino e Geotecnologias da informação e comunicação.
Também sou Prof. de Geografia. Dê uma olhada nos links, quem sabe podemos fazer uma parceria.
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