quinta-feira, 12 de abril de 2018

Livro: JOGOS GEOGRÁFICOS NA SALA DE AULA

Este livro foi escrito com o objetivo de apresentar uma proposta de Jogos Geográficos para professores da Educação Básica, licenciandos e interessados na temática. Dentro dele você encontrará sequências didáticas que foram pensadas e desenvolvidas alinhadas ao currículo escolar de Geografia, abordando diversos temas como o ensino de noções e conceitos necessários para o pensamento espacial e para a compreensão de mapas. A obra propõe, ainda, diversas situações de aprendizagem que vão desde a simples identificação e localização de lugares vistos de cima até situações que exigem estratégias espaciais mais complexas, como se deslocar em um espaço orientado por um mapa na busca de um tesouro. A proposta de jogos foi pensada para ser aplicada para alunos do ensino fundamental, mas pode também ser adaptada para outros espaços de aprendizagem, como centros de educação ambiental, estudos do meio, ou ainda, como hobby para os apaixonados por mapas. A partir das descrições detalhadas da criação de cada jogo você poderá adaptá-lo com alternativas personalizadas. Convidamos a todos os interessados em utilizar ou construir jogos geográficos à leitura deste livro.

Visualize partes do livro aqui

Vendas: Editora Appris; Amazon; 



Introdução:


"INICIANDO NOSSA CONVERSA...
Este livro, como qualquer outro, tem sua história e eu gostaria de compartilhá-la com você. Pesquisei e desenvolvi os seis jogos que serão apresentados aqui durante quase 10 anos de trabalho com crianças. Eu queria propor, para meus alunos, atividades lúdicas que utilizassem recursos de representação do espaço deles e assim abordar o pensamento espacial e noções cartográficas. Os jogos possibilitaram-me (re)pensar e (re)elaborar minhas práticas docentes continuamente; além, é claro, de criar para meus alunos algumas situações cartográficas divertidas a partir do município deles. E é este o tema central do livro: elaborar jogos para utilizar nas aulas de Geografia. A escolha do tema deu-se em decorrência de minha prática profissional. Sou professora de Geografia e, durante minha iniciação científica na graduação, optei por trabalhar com o ensino; mas foi a partir do primeiro ano como professora em escolas públicas do município de Ourinhos que me deparei com a real dificuldade dos alunos e alunas quanto a compreensões das noções cartográficas.

Durante esse primeiro ano, como professora, utilizei alguns jogos relacionados com as noções cartográficas que estavam sendo desenvolvidos para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e que originaram a coleção Jogos Geográficos. Ao utilizar tais atividades, encontrei uma resistência, por parte de supervisores pedagógicos, em relação à dinâmica e metodologia usada na aula devido ao fato de serem atividades que fogem à prática cotidiana dos anos finais da educação básica. Para alguns profissionais da área de educação, atividades que não fazem parte da dinâmica professor-lousa-livro didático não apresentam contribuição real para o ensino e, muitas vezes, são consideradas, por
eles, como mera “perda de tempo”.

Entretanto, devido ao fato desses jogos fazerem parte do TCC, eu estava amparada em um referencial teórico que me permitiu justificar as contribuições dos materiais e demonstrar que estavam de acordo com os conteúdos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o referido ciclo. Naquele momento, minha primeira reação foi desistir dos jogos. Mas, após refletir, percebi que esses problemas enfrentados na escola não deveriam desanimar-me, mas sim servirem de estímulo para uma nova pesquisa, mais aprofundada na qual eu poderia demonstrar as contribuições dos jogos utilizados, originando então a dissertação de mestrado defendida no outono de 2013.

Busquei, durante a pesquisa de mestrado, responder alguns questionamentos como “qual a contribuição dos jogos para o desenvolvimento cognitivo do aluno” e “como essas contribuições poderiam auxiliar nas aulas de Geografa” tendo os PCNs como direcionadores, uma vez que este documento curricular traz os conteúdos a serem trabalhados de acordo com cada ciclo/ano. Assim, o material analisado na referida investigação poderia ser justificado não só pelas suas contribuições sociais e afetivas, mas também por trabalhar a cartografa, conteúdo específico daquele ano.

Quando utilizei os primeiros jogos, há quase 10 anos, lembro-me da satisfação de ver meus alunos jogarem; e por isso, já há algum tempo, elaborei o pequeno manual Jogos Geográficos: passo a passo e criei o blog jogos-geograficos.blogspot.com, porque queria muito compartilhar com outras educadoras e educadores os jogos criados. Em meio a essas e outras atividades, durante o ano de 2014, atuei como formadora pedagógica no município de Campinas-SP para auxiliar docentes da rede municipal a criarem seus materiais, originando então a coleção Jogos Geográficos na escola. Desde então, tem sido uma alegria ver educadores e futuros educadores entusiasmarem-se com a ideia de produzirem seus próprios jogos.

Desde a elaboração do primeiro jogo, aprendi muito com os retornos que tive, dentro e fora da sala de aula, com crianças e adultos. A publicação deste livro deu-me a oportunidade de rever e reescrever alguns conceitos, refinar ideias, além de adicionar um novo jogo. Quando comecei a desenvolver os materiais, eu ainda estava distante das discussões entre alfabetização e letramento. Foi somente mais tarde, durante meu doutoramento, que passei a incorporar ao processo da alfabetização cartográfica o termo letramento, abrigando uma compreensão ampla da prática da linguagem, que engloba e ultrapassa o processo da alfabetização.

A alfabetização cartográfica, com o foco no domínio de um sistema cartográfico, passou a ser entendida como parte de um processo mais amplo, tendo seus objetivos específicos indispensáveis para a compressão da linguagem cartográfica, uma vez que é necessário um conhecimento básico das convenções e mecanismos de abstrações da cartografa dominante (escala, projeção, simbologia...). Porém o domínio da linguagem cartográfica é compreendido agora dentro de uma complexa rede de práticas e saberes (também o gramatical) vinculados às várias formas de representação espacial. Daí em diante, passei a defender a ideia de alfabetizar letrando (SOARES, 2009), deslocando a ênfase
habitual da localização como centro do processo.

Meus primeiros estudos na área da Cartografa Escolar tinham como referencial teórico somente os estudos da psicologia genética de Jean Piaget, sobretudo no seu trabalho sobre o desenvolvimento das noções espaciais (PIAGET e INHELDER, 1993). Apesar de esse referencial ter possibilitado compreender como desenvolvem as noções cartográficas junto aos escolares, essa teoria apresenta algumas limitações na compreensão das divergências do aprendizado dentro do próprio grupo de escolares, principalmente pela não correspondência das faixas etárias definidas nas pesquisas de Piaget e colaboradores, bem como pelo fato de a aprendizagem não seguir a sequência cognitiva apresentada por eles. Para este livro, revisei e ampliei as referências sistematizadas sobre a compreensão do espaço na criança para compreender como se constroem as relações espaciais a partir da projeção do esquema corporal e assim interpretar algumas “dificuldades” dos alunos. A passagem do espaço percebido para o espaço representado é um progresso do domínio do próprio corpo em complexas ações cognitivas; e nós, professoras e professores, precisamos compreender essas etapas que podem nos dar pistas para auxiliar nossos alunos.

O objetivo do livro continua o mesmo da dissertação: abordar questões teórico-práticas sobre o uso de jogos no ensino de Geografa. Por isso, o livro está dividido em três partes. Na primeira parte intitulada Reflexões teórico-práticas, apresento um referencial sobre jogos e sobre as características do sistema cartográfico e suas noções apontadas em documentos curriculares, a fim de oferecer subsídios teóricos para as situações práticas que serão apresentadas posteriormente.

Na segunda parte, Planejando e criando Jogos Geográficos, apresento um conjunto de jogos que podem ser feitos com materiais acessíveis e econômicos. Cada jogo proposto inclui uma explicação do “como funciona” e do “como jogar”, das noções cartográficas e espaciais possíveis de trabalhar e sugestões de conteúdos integrados. Ao final, estão detalhados os roteiros de planejamento com um guia para a criação de cada jogo. Já na terceira parte, Jogando – alguns relatos de experiência, apresento algumas análises de sequências didáticas tanto para os anos iniciais como os anos finais da educação básica. É importante frisar que esses roteiros não seguem um trilho estreito e em uma única direção. Eles apenas indicam um caminho percorrido.

Desejo com este livro momentos de reflexão e inspiração para novas ideias e, quem sabe, um convite para você também construir novos jogos geográficos!
Boa leitura!"


BREDA, T. V. Jogos Geográficos na sala de aula. Appris: Curitiba, 2018, p. 15-18.




Confira o Sumário do livro




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