1. Descrição do jogo
O jogo de dominó "Ponto de vista" induz a comparação entre as perspectivas na visão vertical e frontal.O jogo é composto por peças retangulares, divididas em duas partes (ou “pontas” como são chamadas no dominó original).
Em uma ponta, encontram-se fotografias frontais de um objeto, e na outra ponta uma fotografia vertical de outro objeto. O encaixe das peças ocorre entre uma fotografia vertical com uma fotografia frontal do mesmo objeto.
Devido ao fato de trabalhar com as duas perspectivas, espera-se que o aluno observe imagens por diversos ângulos, porém perceba que se referem ao mesmo lugar.
É fundamental certificar-se que as crianças estão fazendo as identificações e encaixes corretos. Você pode mostrar detalhes de modo a estimulá-los a usarem cores, formas, tamanhos e texturas para identificar os lugares ou elementos da imagem: Uma opção também é escolher um objeto da sala de aula e fazer seu desenho na lousa nas duas perspectivas.
2. A construção do pensamento espacial e as relações projetivas
do espaço na criança, um estudo sistemático das transformações das noções necessárias para a passagem do espaço percebido para o espaço representado figurado. Os autores afirmam que a percepção do espaço ocorre no contato direto com o objeto, sendo construído mais rapidamente que o espaço representado. Este último, formado por representações figuradas, necessita do domínio do nível projetivo, e até mesmo métrico, para ser alcançado. Uma coisa é perceber o espaço; outra é representá-lo, construindo-o ou (re) construindo-o. O espaço perceptivo é construído seguindo uma ordem que parte das relações topológicas elementares e segue para as relações projetivas métricas para, finalmente, atingir as relações euclidianas entre os objetos.
RELAÇÕES TOPOLÓGICAS, PROJETIVAS E EUCLIDIANAS A PARTIR DOS ESTUDOS DE PIAGET E INHELDER, HANNOUN E CATLING
Fonte: BREDA, 2018, p. 44-45.
A passagem da percepção para a representação supõe a reconstrução dessas relações espaciais já adquiridas no nível projetivo para o nível representado. A percepção visual e a noção espacial, por exemplo, começam no plano perceptivo em um sistema de relações de diferentes perspectivas, determinadas pelos movimentos prováveis do olhar, e prosseguem no campo da representação. No período de transição, a motricidade é essencial para a interpretação espacial, pois gera percepções e situações espaciais distintas.
Um objeto cúbico, por exemplo, dependendo da perspectiva que fixa o olhar, de modo que nenhum dos lados seja visto, pode ser “transformado” em uma figura plana, uma vez que nosso campo de visão reconfigura a noção da largura
ou altura do objeto, restringindo-o a somente uma face. O objeto, como tal,
passa a ser visto apenas pela sua superfície lateral plana (quadrado) sem a percepção da profundidade (2 dimensões), e não mais em três dimensões.
DIFERENTES PERSPECTIVAS DO MESMO OBJETO
FONTE: Breda, 2017, p. 114.
Na figura, por exemplo, quando a criança passa da posição ‘A’ para a posição ‘B’ ou ‘C’ e, simultaneamente, percebe que se refere ao mesmo objeto ela terá alcançado a coordenação de perspectivas e, portanto, o nível projetivo, pois há uma coordenação das ações do olhar segundo as suas mudanças de posição ou direção.
Movimento semelhante ocorre na leitura de um mapa. Os objetos e fenômenos são “rebatidos” sobre um mesmo plano. Para esse entendimento, a criança precisa ter concebido as relações projetivas, uma vez que, no período topológico, a criança considera apenas um ponto de vista como o único possível, não chegando a deduzir as transformações visuais do objeto quando se muda o ângulo de visão.
No caso dos mapas, a face rebatida para o plano normalmente será a voltada para cima, que ocorre com a visão vertical (veja a figura a seguir). Em objetos maiores, essa relação torna-se mais difícil, pois a criança não pode manipular os objetos a fim de ter a visão de todas as faces, como ocorreria com um dado, por exemplo.
VISÃO PERPENDICULAR E AÉREA
FONTE: Breda, 2017, p. 115.
A construção da visão vertical ajudará a desenvolver a construção de legendas, as quais facilitará a compreensão das linguagens do mapa. Nesse processo, é importante o desenvolvimento de atividades a partir de “formas, símbolos, figuras geométricas, signos, cores, linhas, áreas” para que a criança possa construir um quadro de variáveis visuais (símbolos e signos presentes no mapa), como forma, tamanho, orientação e cor para relacionar com os mapas.
CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DE LEGENDAS
Fonte: BREDA, 2018, p. 39.
*Este texto é uma revisão sinóptica do artigo La construcción de las relaciones proyectivas en el juego “Puntos de Vista”
Este jogo foi elaborado pelas professoras Nadia Silveira y Maria Nair P.
Miranda durante o curso de formação Confecção de jogos no ensino de Geografia, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Campinas.
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